Colónia Alemã

O cabo submarino e o Faial

Nos meados do século XIX a invenção da telegrafia revolucionou as comunicações a nível mundial, tendo-se estabelecido logo na década de 1850 os primeiros cabos telegráficos submarinos.

A Horta, porto internacional desde o século XVII, foi escolhida para ponto de amarração dos principais cabos entre a Europa e a América, o que ocorreu a partir de 1893. Até 1928 seriam amarrados na ilha 15 cabos submarinos, tornando-a um dos principais centros de comunicação a nível mundial.

As companhias do cabo submarino e a DAT

O Estado Português concessionou as ligações via Açores à Europe & Azores Telegraph Co. – a companhia inglesa – que sub-contratou ligações com outras empresas internacionais. Desta forma instalaram-se na Horta funcionários ingleses, alemães e americanos, representando quatro companhias telegráficas destes países e operando ainda um cabo francês e outro italiano.

Em 1899 efectuou-se o contrato para a ligação Alemanha-Açores e foi fundada a DAT – Deutsch-Atlantische Telegraphengesellschaft – a companhia alemã – que esteve presente na Horta desde Maio de 1900 até à Segunda Guerra Mundial.

A comunidade alemã na Horta

Tal como aconteceu com as restantes companhias estrangeiras, os alemães desenvolveram intensa actividade social, cultural e desportiva, houve casamentos de funcionários com faialenses e a sua presença, não obstante encurtada pelas guerras mundiais, marcou a comunidade local.

Eram frequentes as reuniões e festas nas suas residências, incluindo recepções a patrícios seus de passagem pela ilha, muitas das quais neste espaço.

A Colónia Alemã

Desconhece-se a configuração inicial dos edifícios da Colónia Alemã, que se supõe tenham sido construídos entre 1905/6 e 1912. A versão final e mais completa do bairro foi realizada após a crise sísmica de 1926, quando os edifícios sofreram uma intervenção profunda. Essa reconstrução coincide com o regresso dos funcionários alemães à cidade, uma década depois da sua saída no contexto da Primeira Guerra Mundial.

Com uma arquitectura de cariz tardo-romântico proto-moderno, a existência de espaços de aparato, com destaque para o jardim de Inverno com a heráldica do Império Alemão (extinto em 1918), evidencia o espaço como afirmação do poder germânico no contexto internacional.

No seu auge, nos anos 30, o conjunto era murado e incluía edifícios residenciais (1-5, 9), espaços ajardinados e de cultivo (6, 8 e 11), de lazer e desporto (7 e 8) e ainda uma escola para os filhos dos funcionários (10).

 

1 – Edifício do Relógio – casa dos solteiros, com messe e zonas sociais
2, 3 e 4 – Residências familiares – seis casas geminadas para funcionários com famílias
5 – Residência do director da DAT
6 – Pequena quinta / pomar do director (murado)
7 – Campo de ténis da DAT e relvado
8 – Jardim (com árvores, canteiros e pequeno lago)
9 – Casa do professor alemão (desaparecida)
10 – Escola alemã e carpintaria (desaparecidas)
11 – Terreno cultivado / pasto, propriedade da DAT, mas fora do muro do bairro

 

 

 

Cronologia da DAT

1899 – Contrato para a ligação Alemanha-Açores e criação da DAT – Deutsch-Atlantische Telegraphengesellschaft
1900 – Ligação Borkum-Faial e instalação da DAT na Horta
1905-1912 – Construção da Colónia Alemã (primeira versão)
1912 – Data dos vitrais com a heráldica do Império Alemão (desconhece-se a sua localização primitiva)
1914 – Início da Primeira Guerra Mundial e corte do cabo alemão Emden-Horta
1916 – Entrada de Portugal na guerra, do lado dos Aliados, apreensão das propriedades da DAT e encaminhamento dos alemães para a ilha Terceira
1924 – Nova concessão e devolução das propriedades
1926 – Grande crise sísmica no Faial destrói parte da cidade e afecta a Colónia Alemã
c.1928/1930 – Reconstrução do bairro residencial (versão actual)
1939 – Início da Segunda Guerra Mundial e corte dos cabos alemães
1943 – Saída definitiva do pessoal da DAT

1974 – Aquisição do bairro pelo Estado Português
1976 – Instalação de departamentos do recém-criado Governo Regional dos Açores
1980-1990 – Instalação provisória da Assembleia Legislativa Regional dos Açores no Edifício do Relógio
2012 – Classificação do conjunto como Bem Imóvel de Interesse Público e restauro dos vitrais

 

Vitrais

O conjunto de vitrais representa a heráldica dos estados que compunham o Império Alemão (1871-1918).

Datados de 1912, foram fabricados pela casa Schneider und  Schmolz, de Colónia, e restaurados por Paulo Patacão em 2012.

Foram colocados neste espaço no final da década de 1920, no contexto da República de Weimar, após a Primeira Guerra Mundial.

Os edifícios da DAT albergam hoje departamentos do Governo Regional dos Açores e este espaço serve de apoio a reuniões e eventos oficiais.